Hiperaldosteronismo Primário: Guia Completo e Acessível para Pacientes

O que é o Hiperaldosteronismo Primário?
O hiperaldosteronismo primário (HAP) é uma doença hormonal caracterizada pela produção excessiva de aldosterona pelas glândulas adrenais. Essa produção exagerada leva ao aumento da pressão arterial e à queda do potássio no sangue.
Apesar de pouco conhecido, o HAP é a causa tratável mais comum de hipertensão secundária , e ganhou importância nas diretrizes da Sociedade de Endocrinologia por ser uma condição frequentemente curável — especialmente quando diagnosticada precocemente.
Este artigo foi escrito de forma detalhada, porém acessível, com base nas recomendações da Endocrine Society Clinical Practice Guideline e em consensos da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) .
O que são as glândulas adrenais?
As adrenais , também chamadas de suprarrenais, são pequenas glândulas localizadas acima dos rins. Apesar do tamanho reduzido, cada adrenal produz hormônios essenciais para a vida. O funcionamento adequado das glândulas adrenais é fundamental para o equilíbrio hormonal do organismo e a manutenção de funções vitais, como a regulação da pressão arterial e a resposta a condições de estresse.
Córtex Adrenal (Camada Externa): dividido em três zonas:
1) Zona Glomerulosa
- Produz aldosterona , que regula sal, água e potássio.
- É a camada envolvida no hiperaldosteronismo primário.
2) Zona Fasciculada
- Produz cortisol , hormônio do metabolismo e do stress.
3) Zona Reticular
- Produz androgênios , hormônios relacionados a características sexuais.
Medula Adrenal (Camada Interna): Produz adrenalina e noradrenalina , responsáveis por respostas ao stress agudo.
O que é a aldosterona e por que ela causa pressão alta?
A aldosterona faz o rim reter sal e água , ao mesmo tempo em que elimina potássio pelo rim.
Quando o nível hormonal de aldosterona está alta demais:
- Aumenta volume de sangue
- Eleva a pressão arterial
- Reduz o nível do potássio no sangue (hipocalemia)
- Danifica rins, coração e vasos sanguíneos
- Torna a pressão resistente ao tratamento comum
As diretrizes reforçam que identificar essa doença cedo reduz complicações cardíacas e renais.
Causas do hiperaldosteronismo primário
1. Adenoma produtor de aldosterona (APA)
- Tumor benigno na adrenal
- Principal causa curável por cirurgia
2. Hiperplasia adrenal bilateral
- Ambas as adrenais produzem aldosterona em excesso
- Tratamento geralmente clínico
3. Outras causas raras
- Alterações genéticas
- Tumores malignos (extremamente raros)
Sintomas mais comuns
Muitos pacientes convivem anos com a doença sem saber, pois os sintomas são inespecíficos:
- Pressão alta resistente
- Necessidade de vários remédios para pressão
- Câimbras
- Fraqueza muscular
- Formigamentos
- Sede intensa
- Urinar várias vezes ao dia
- Potássio baixo (hipocalemia)
- Dor de cabeça frequente
- Fadiga persistente
Quem deve ser investigado?
As diretrizes recomendam triagem para HAP nos seguintes casos:
✔ Hipertensão resistente (3 ou mais medicamentos)
✔ Hipertensão grave (≥150/100 mmHg)
✔ Hipertensão + hipocalemia (potassio baixo)
✔ Nódulo encontrado em adrenal (incidentaloma)
✔ Apneia obstrutiva do sono com hipertensão
✔ Histórico familiar de hipertensão precoce ou AVC antes dos 40 anos
✔ Parentes de primeiro grau de pacientes com HAP
Se o paciente se encaixa em qualquer um desses critérios, as sociedades de endocrinologia recomendam fortemente a investigação.
Como é feito o diagnóstico
1. Triagem: Relação Aldosterona/Renina (ARR)
É o exame inicial recomendado pelas diretrizes. Ele avalia se a aldosterona está alta e a renina suprimida (baixa).
Recomendações técnicas (diretrizes):
- Corrigir potássio antes do teste
- Ingestão normal de sal
- Verificar posição do paciente (sentado por 5–15 minutos)
- Avaliar necessidade de suspender medicamentos que interferem
Medicamentos que interferem e devem ser ajustados:
- Espironolactona / eplerenona
- Amilorida
- Diuréticos
- Inibidores de ECA e BRA
- Betabloqueadores
- Clonidina
Antihipertensivos mais adequados durante o exame:
- Verapamil de ação lenta
- Hidralazina
- Prazosina / doxazosina
Se a ARR estiver elevada com aldosterona ≥10–15 ng/dL, as diretrizes recomendam seguir para testes confirmatórios.
2. Testes confirmatórios (Endocrine Society)
Um dos testes abaixo é suficiente:
A) Teste de supressão salina (infusão de 2L em 4h)
- Aldosterona final >10 ng/dL → confirma HAP
B) Sobrecarga oral de sal (24h)
- Indicada quando infusão não é possível.
C) Teste com captopril
- Aldosterona não suprime adequadamente.
D) Teste com fludrocortisona (mais sensível)
- Usado em centros especializados.
3. Determinar se a produção é unilateral ou bilateral
Depois de confirmar o diagnóstico, é preciso identificar qual adrenal está produzindo o hormônio em excesso.
Tomografia de abdome superior
- Importante para planejamento cirúrgico e identificação de adenoma unilateral
- Quando tem hiperplasia bilateral, ela não determina o lado produtor
Cateterismo de Veias Adrenais (AVS) - padrão-ouro, mas exame invasivo
Permite:
- Comparar produção hormonal de cada adrenal
- Definir se a causa é unilateral (cirúrgica) ou bilateral (tratamento clínico), principalmente quando tem suspeita de hiperplasia
- Pode ser dispensado em alguns casos:
- Pacientes <35 anos
- Com nódulo claro unilateral na TC (adenoma)
- Com aldosterona muito elevada
Tratamento segundo as diretrizes da Endocrine Society
1. Doença unilateral — cirurgia (adrenalectomia)
A adrenalectomia é o tratamento preferido quando um tumor unilateral é responsável pelo quadro.
Via recomendada:
- Cirurgia Robótica (mais precisa, menos traumática e segura)
Benefícios esperados da cirurgia
- Normalização do potássio em quase 100%
- Cura da hipertensão em 40–70%
- Melhora significativa do controle da pressão em >90%
- Redução de risco cardiovascular
- Proteção renal a longo prazo
2. Doença bilateral — tratamento clínico
Se a causa for hiperplasia bilateral:
- Espironolactona é primeira escolha
- Eplerenona é alternativa com menos efeitos colaterais
Cirurgia Robótica da Adrenal — Por que é tão segura e precisa?
A cirurgia robótica tem se destacado pela precisão e segurança, principalmente em áreas anatômicas profundas como a adrenal.
Vantagens para o paciente:
- Visão 3D ampliada e maior precisão
- Menor risco de sangramento
- Menor trauma tecidual
- Recuperação mais rápida
- Menos dor
- Cicatrizes menores
- Alta em média após 24 horas na maioria dos casos
Cirurgião com grande experiência em cirurgia robótica adotam essa técnica como padrão para adrenalectomia de forma altamente eficaz e segura.
Prognóstico segundo as diretrizes
Sem tratamento, pacientes com HAP têm maior risco de:
- AVC
- Infarto
- Arritmias (como fibrilação atrial)
- Doença renal crônica
- Mortalidade cardiovascular
Quando tratado adequadamente:
- Riscos cardiovasculares reduzem drasticamente
- Controle da pressão melhora significativamente
- Em causas unilaterais, a cirurgia pode curar a doença
- Em causas bilaterais, o tratamento clínico controla bem o quadro
FAQs sobre Hiperaldosteronismo Primário
Quais são os principais sintomas do hiperaldosteronismo primário?
Sintomas comuns incluem hipertensão resistente, fraqueza muscular, fadiga e baixos níveis de potássio no sangue.
Como o hiperaldosteronismo primário é diagnosticado?
A condição é diagnosticada por meio da relação aldosterona-renina, testes de supressão de aldosterona e exames de imagem.
A cirurgia robótica é segura para tratar tumores adrenais?
Sim, a cirurgia robótica é uma técnica segura e eficaz, oferecendo precisão e rapidez na recuperação.
Quais médicos tratam o hiperaldosteronismo primário?
Endocrinologistas e urologistas geralmente estão envolvidos no tratamento, especialmente se a cirurgia for necessária.
Medicamentos são uma opção de tratamento?
Sim, em casos de hiperplasia adrenal bilateral, medicamentos podem ser usados para controlar a condição.
A doença pode ser hereditária?
Existem casos familiares, então histórico familiar deve ser considerado durante o diagnóstico.
Vou precisar de hormônios se retirar uma adrenal?
Não. A adrenal do lado oposto assume toda a função.
A cirurgia cura a hipertensão?
Pode curar totalmente ou reduzir bastante o número de medicamentos.
Quanto tempo dura a recuperação?
Em média 7dias para atividades habituais.
O potássio volta ao normal?
Sim — praticamente 100% dos casos que tem doença unilateral.
Conclusão
O hiperaldosteronismo primário é uma condição tratável e potencialmente curável , especialmente quando identificado precocemente.
Com o avanço da cirurgia robótica , a adrenalectomia tornou-se um procedimento extremamente seguro, preciso e com recuperação rápida — oferecendo ao paciente uma excelente chance de controle ou cura da pressão arterial e preservação da saúde cardiovascular a longo prazo.




